Talvez por 2006 ou 2007, o Grupo Folclórico e Etnográfico de Almagreira acolheu um grupo de Montmorillon (Poitiers - França), onde eu tinha estado em 2001/2002 e onde tinha aprendido uns passos das danças tradicionais da região do Poitou-Charentes.
Nas poucas horas que passaram no nosso concelho, pretendemos oferecer uma panorâmica turistica, sobretudo da cidade de Pombal. Assim, conseguimos uma visita guiada pelo centro histórico. E eis que começou o meu grande desafio de tradução, para o qual eu não estava preparado (creio que ainda hoje não estaria). Após alguns minutos de visita, apercebi-me que apenas tínhamos para mostrar bustos e fotos do Marquês de Pombal em diferentes tamanhos e materiais. A certa altura, embaraçado, eu já só dizia "encore un Marquis", que não sendo de Sade, ameaçava tornar a visita um pouco sádica...
Alguns anos mais tarde (3 ou 4 não estou certo), levei as minhas turmas de 7° Ano a Belmonte. O objetivo principal era o museu judaico mas, rapidamente, os objeticos iniciais foram largamente atingidos, perante a riqueza que nos foi apresentada: além do citado museu, as alunas e os alunos visitaram ainda o castelo, o panteão dos Cabrais, o Museu do Azeite, o Ecomuseu do Zêzere e o museu das Descobertas. Fiquei maravilhado com a qualidade do percurso e da oferta educativa e recreativa. Mais recentemente, descobri ainda que foi criado um campo de golfe que atrai praticantes de toda a região centro, mas também de Espanha. Uma das principais responsáveis de toda a excelente organização tinha sido minha colega na FLUC (o que apenas descobri durante a visita), Dra Susana Miranda, com quem a autarquia desenhou todo um projeto abrangente e com objetivos muito claros, não apenas turísticos, mas também (sobretudo?) educativos.
Como se relacionam estes dois exemplos? Em nada, infelizmente...
Se pensarmos objetivamente, o Marquês de Pombal não foi um estadista que possa servir de exemplo (pelo menos assim o espero, apesar das vozes que, por vezes, clamam por "suspender a Democracia por seis meses"), basta lembrar a expulsão dos Jesuítas e o processo dos Távoras, por exemplo. Ainda assim, a sua visão para a reconstrução de Lisboa, após o terramoto de 1 de novembro de 1755, deve ser reconhecida como símbolo de visão de futuro e de planeamento a longo prazo. Mas o desafio é ir mais além: se Pombal se quer constituir como Cidade Educadora, deve utilizar a figura do Marquês para lançar outros desafios que deverão ir muito além da Sebastião José de Carvalho e Melo e que poderiam passar por um espaço sobre Direitos Humanos, um espaço sobre literatura ("Felizmente há luar", de Luís de Sttau Monteiro e Padre António Vieira, por exemplo - e razões diferentes, obviamente), um espaço sobre a interculturalidade, nunca esquecendo espaços museológicos que poderiam mostrar a riqueza natural da região, assente em tecnologias interativas e desafiadoras para visitantes. Desse modo, Literatura, História, Ciências, Biologia, Geografia, Tecnologias da Informação, Cidadania, Religião, entre outras àreas, estariam claramente cobertas por um roteiro riquíssimo, abrangente e interdisciplinar.
O que é preciso? Querer, saber o que se quer, para onde ir e com quem... a partir daí, não será necessário repetir "encore un Marquis"...
Foto: Pombal Jornal
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